quinta-feira, 28 de julho de 2016

Rascunhos de um poema pra louvar o meu Sertão


Pra louvar o meu sertão...

 
Vamos louvar a cultura
Do Sertão abençoado
Onde as fagulhas do verso
Brilham no xote e xaxado...
E as bombas de alegria
Bombardeiam poesia
No coração animado!


Louvar o Sertão de gente
Que cultiva o interior...
Que acende a linda fogueira
Pra esquentar o amor...
Sertão de gente feliz,
Que mesmo com cicatriz,
Sorri diante da dor.

Sertão que sabe cantar
Nas noites de São João,
Sertão de mesas tão fartas,
Tão cheias de animação,
Sertão forte e resistente,
Que sabe cultivar gente,
Bondosa de coração!


E é este o meu Sertão,
Que minha alma se encanta,
Sertão da música animada,
Da arte tão pura e santa...
Um sertão que pra dançar
Basta a saudade chegar...
Que a voz da música já canta!


Pois enquanto eu tiver vida,
E pulsar meu coração
Eu sairei pelo mundo
Versejando este meu chão ...
Muito eu tenho a me orgulhar
Pra poder sempre exaltar
As riquezas do Sertão!

(Veronica Sobral – Nov. 2015)


Saudade indescritível: três intermináveis meses!



Meu eterno sertanejo: meu pai, meu herói...




Eu nasci amando meu pai. Nasci feliz. Não sabia que seria filha de um sertanejo, agricultor que nunca arrastaria as alpercatas para morar numa cidade. Sério, de poucas palavras, meu pai demonstrava nos olhos a simplicidade, a dureza e a pureza da vida.
Sensível a tudo, suas lágrimas irrigavam sempre sua face e amenizavam sua expressão dura. Chorava sem sentir, diante de uma alegria ou tristeza, estava meu pai demonstrando os seus sentimentos. Chorando. E eu chorava junto. Não podia ver seus olhos marejando. Os meus marejavam também. Parecia até sintonia.
Nascido em 1935, enfrentou muitas secas no sertão. Das que o vi enfrentar, nunca senti desânimo em sua face ou sua voz. Sempre dizia: “Vai chover, se Deus quiser!”. E chovia. Seus olhos brilhavam ao ver a lavoura crescer, o açude sangrar e o gado ficar gordo. Era linda sua emoção. Conversava com os bichos como se fosse com gente. Até parece que respondiam a sua conversa. E pensando bem, respondiam. Interagiam. Balançavam o rabo, baixavam as orelhas e obedeciam ao seu pedido. Às vezes, eu buscava, com os olhos, personagens humanos participantes da conversa. Não tinha. Os animais eram seus companheiros, cúmplices e confidentes.
Apaixonado pela família, meu pai nos amou imensamente. Deu- nos um bem precioso: educação. Educou-nos sem dizer nada. Ensinou-nos a amar, amando. Ensinou-nos a ser honestos, com atitudes. Com poucas palavras, meu pai ensinava-nos a vida. E nos dava a vida em cada ensinamento.
Esposo melhor minha mãe não teria. Parceiro. Companheiro. Desses que - mesmo brocando, limpando mato e fazendo o que mais gostava: cuidar da roça – ainda achava tempo para fazer o café da manhã e ajudar nas tarefas domésticas.
Orgulhava-me pela simplicidade. Orgulhava-me pela paciência e resiliência. Adaptava-se às situações da vida, sem reclamar. Nunca vi meu pai reclamar de nada. Quando estava preocupado, evocava o nome de Deus! E Deus ouvia!
Amou tanto o sertão que morreu nele. Sem reclamar. Com a serenidade que sempre teve para enfrentar situações adversas, meu pai despediu-se de nós, sem avisar!
E hoje, depois de tanto tempo sem vê-lo, é impossível mensurar a dor e a saudade que meu peito sente. É impossível descrever a vontade de vê-lo novamente, de ouvir o “Deus te abençoe”, “Deus te faça feliz”, subindo a calçada de nossa eterna casa. É impossível sentir o cheiro de café e não marejar os olhos, pensando nos seus. A saudade de seu silêncio, dos seus pensamentos e da sua presença abafam meu coração e meus olhos lhe homenageiam com um dilúvio de lágrimas, buscando, em vão, encontrar os seus.