sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Edson Moura: Um desbravador do Sertão do Pajeú!




             A Folha de Pernambuco publicou, semana passada, uma reportagem, com entrevista incrível sobre o médico Edson Moura e suas publicações. 

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O médico e escritor José Edson de Moura lançou este ano dois livros. “Casos e acasos” (191 páginas, Editora Bagaço) e “Fragmentos de uma vida”, 278 páginas, Editora Bagaço). No primeiro, o leitor vai conhecer as histórias do cotidiano do médico e político. No segundo, ele presta uma homenagem ao seu pai (Severino Rodrigues de Moura), já falecido. Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco, doutor Edson, como é conhecido na região do Sertão do Pajeú, conta sua trajetória e mostra que é possível sair do nada e, através do estudo e do trabalho, conquistar um futuro promissor.

ORIGEM
Minha origem é muito humilde. Sou filho de um agricultor, Severino Rodrigues de Moura, e de uma dona de casa, Severina Azevedo Moura. Nasci no engenho Humaitá, da Usina Pedroza (Cortês), Mata Sul pernambucana, no ano de 1942. Meus pais eram analfabetos, mas tinham o sonho de que seus filhos estudassem até serem doutores. Eu e meus quatro irmãos sempre estudamos em escolas públicas. Só estudamos no Colégio Americano Batista porque conseguimos bolsas de estudos do Governo do Estado. E todos fizeram vestibulares, passaram e concluíram os cursos em universidades públicas.

FAMÍLIA
É a base para a formação integral do ser humano. Eu e meus irmãos recebemos uma educação muito rígida. Meu pai só queria que a gente estudasse e não admitia que fizesse nada de errado. Não é à toa que todos se formaram, apesar dos poucos recursos dos meus pais. José Agápto , eu e Maria José escolhemos ser médicos, José Moura formou-se em engenheiro agrônomo e José Evóide em advogado. Construí minha própria família ao lado de Márcia Soares de Moura, mãe dos meus cinco filhos (Júnior, Michelle, Sérgio Ricardo e Caio César são médicos e Paulo Marcello é surfista profissional).

UFPE
Tentei o vestibular de Medicina por duas vezes sem ter êxito. Só consegui passar depois de fazer um curso preparatório patrocinado pela Sudene. E finalmente passei em Medicina, na Universidade Federal de Pernambuco, na época, um dos mais concorridos do Nordeste. Quando cheguei para as aulas, fiquei incrédulo, estava estudando ao lado da elite nordestina e, no futuro, poderia competir de igual para igual no mercado de trabalho. Foram seis anos de muita dedicação e renúncia.

TABIRA
Um homem de origem humilde só tem três sonhos na vida: um emprego, uma casa e um carro. Mas eu pensava em ter algo mais, porque tinha um diploma na mão e um espírito de luta inigualável. E sempre pensava no que meu pai dizia: “No país onde existe democracia, sempre há oportunidades para todos”. Em 1970, fui nomeado médico para o hospital de Tabira, cidade do Sertão do Pajeú, onde construí parte da minha história.

PESADELO Em 1978, fui convidado por João Cordeiro da Silva Neto, homem conhecido e conceituado na região do Alto Pajeú, para ser prefeito de Tabira. Pensei, refleti e respondi que não. Isto por vários motivos: não tinha vocação política; não era filiado a nenhum partido; além disso, era um forasteiro. Mas, mesmo assim João Cordeiro anunciou minha candidatura. Quis o destino que o Congresso Nacional prorrogasse o mandato dos prefeitos. Foi ai que meu sonho virou pesadelo. O atual prefeito se sentindo ameaçado pela minha candidatura solicitou minha transferência para Arcoverde e, alguns meses depois, fui transferido para o Hospital da Restauração em Recife, mas continuei morando em Tabira. Mas as retaliações não pararam por ai: também fui proibido de trabalhar em qualquer hospital do Sertão do Pajeú.

AFOGADOS
Ao terminar meu período no Hospital da Restauração tentei voltar para Tabira, mas não consegui alvará para construir uma unidade hospitalar privada. Então, resolvi abrir consultório em Afogados da Ingazeira e, posteriormente, comecei a construir o Hospital José Evóide de Moura. Hoje, é um centro hospitalar moderno que não deve nada aos hospitais da Capital pernambucana.

PREFEITO Fui duas vezes prefeito de Tabira. A primeira em 1983 a segunda em 1992, quando tive a difícil missão de implantar novas políticas, fazer mudanças e mediando os interesses de forma que Tabira conquistasse o respeito e credibilidade perante o Estado. Para isso, fui buscar no governador Roberto Magalhães o apoio na construção de uma nova Tabira.

DEPUTADO O ano era 1989. O ex-governador Roberto Magalhães disse-me que Tabira precisava de um representante na Assembleia Legislativa. E a minha brilhante administração colocava-me dentro de um cenário político digno de ocupar uma cadeira na casa Joaquim Nabuco. Tive que me filiar ao PDT para viabilizar minha candidatura. E para me eleger deputado estadual só contei com apoio financeiro da minha família. Por isso, cheguei à Assembleia independente para seguir a coerência da minha consciência. Tive todas as chances para ser Deputado Federal, mas na política ou em qualquer atividade, existe a hora de entrar e a hora de sair.

LIVROS Nunca fui escritor e, nem tenho talento para tanto. Porém, não podia deixar de registrar momentos folclóricos e até mesmo hilariantes do meu cotidiano como médico e político, além de registrar toda a trajetória da minha família. Ao todo, já lancei seis livros: “Sapos da política I” (1988), “Sapos da política II” (1993), “Notas para a história de Tabira” (1987), “Um médico, muitas vidas” (2011), “Casos e acasos” (2016) e “Fragmentos de uma vida” (2016). Escrevi os livros para serem doados e para presentear meus amigos. Eles não estão à venda em livrarias.

MUSEU Durante minha trajetória de vida ganhei muitos presentes. Isto porque, nem sempre as pessoas tinham dinheiro vivo para pagar meu atendimento médico. Comecei a reunir esses presentes e percebi que tinha um acervo considerável, formado por cerca de 300 peças antigas de grande valor. Reuni todos no Recanto dos Moura, chácara próxima a Tabira. Alguns estão catalogados e guardados em locais específicos, outros não. Meu sonho é criar um museu para preservar a memória da minha família e do povo de Tabira.

Uma trajetória de trabalhos e sonhos
“No início desse mês, lancei meu sexto livro, onde registrei a trajetória do meu pai, Severino Rodrigues de Moura. A obra é dividida em cinco partes: Reflexões, Memórias, Homenagens, Cartas e Fotos. Traz um perfil do meu pai, um homem simples, mas que pautou sua vida no trabalho honesto, na dedicação à família e no sonho de ver os filhos formados.

Nascido em Vertentes, no Agreste pernambucano, Severino Rodrigues Moura, veio ao mundo no início do século XX. Filho de agricultores, cresceu analfabeto, mas tinha um temperamento desinibido, era educado e sabia pisar em qualquer lugar. Era dono de uma autoestima que excedia à sua condição de homem do campo.

Sempre trabalhou no sítio do meu avô. Mas os períodos de seca constante não mostravam futuro para o jovem agricultor. Com 25 anos, comunicou ao pai que iria tentar a sorte em outro lugar, o que meu avô protestou, mas não demoveu sua intenção.

Pegou um ‘matulão’ com rede, lençol e roupas e ganhou o mundo. Andou 120 km a pé até chegar ao Engenho Riachão, propriedade da Usina Pedroza, no município de Ribeirão. Começou como camponês arrancando toco, depois passou a Cabo de Turma. Foi quando mandou buscar minha mãe em Vertentes. Começou a ser alfabetizado. Com a descoberta das letras, o mundo se abriria aos seus pés; porque para ele “o homem é um cego quando não sabe ler”.

De Cabo de Turma passou a Apontador e, em seguida, administrador do Engenho Pedrez. Após seis meses foi para o Engenho Humaitá e foi transferido para o Engenho Ilha das Flores. Em seguida, foi administrador de cinco engenhos da Usina Pedroza.

E assim foi a vida do meu pai, um curumba que trabalhou nas principais usinas do Estado por mais de 48 anos. Por sua larga experiência de vida, sua honradez, venceu o ostracismo com seu feito no corte da cana-de-açúcar.

Antes de falecer em 2013, com 98 anos, ele levou a vida a escrever suas memórias, livros de pesquisa e de história, concatenando nas linhas, sua trajetória de vida e os acontecimentos dos quais participou. Ele escreveu dez livros”.



                                                                              Sugestão de publicação no blog: João Pedro Sobral

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